Idiomas Nativos
Troncos e famílias linguísticas
Algumas línguas indígenas são mais semelhantes entre si do que outras, mostrando que elas têm origens comuns, apesar de terem sofrido mudanças ao longo do tempo.
Os especialistas em línguas, os linguistas, estudam as semelhanças e as diferenças entre elas e as organizam em troncos e famílias linguísticas.
O tronco linguístico é um conjunto de línguas que têm a mesma origem: uma língua mais antiga, que não é mais falada. Como essa língua de origem existiu há milhares de anos, as semelhanças entre as línguas que vieram dela são muito difíceis de serem percebidas.
Já uma família linguística é um conjunto de línguas que também possuem uma origem comum, mas que apresentam mais semelhanças entre si.
No Brasil, existem dois troncos: o Macro-Jê, com 9 famílias, e o Tupi, 10 famílias. Há também 20 famílias que por quase não apresentarem semelhança não podem ser agrupadas em troncos linguísticos.
Para entendermos melhor, podemos olhar para a nossa própria língua.
O Português, por exemplo, pertence ao tronco Indo-Europeu e à família Latina. Nossa língua se parece muito com o Francês e com o Espanhol, porque pertencem a uma mesma família. Já se compararmos o Português e o Russo, quase não há semelhanças: as diferenças entre as duas línguas são enormes! Isso acontece porque, apesar de serem de um mesmo tronco, pertencem a famílias linguísticas diferentes: o Português é da família Latina e o Russo é da família Eslava.
Com as línguas indígenas é a mesma coisa!
Veja abaixo alguns exemplos de como são escritas palavras como pedra, fogo, jacaré, pássaro e onça nas línguas da família Tupi-Guarani!
Fontes de informação
- Aryon Dall´Igna Rodrigues
Línguas Brasileiras – para o conhecimento das línguas indígenas (1986)
- Projeto de Documentação de Línguas Indígenas (Museu do Índio/Funai)
Diversidade linguística
Você já parou para pensar em quantas línguas são faladas ao redor do mundo? Que outras línguas além do Português você costuma ouvir no seu dia a dia?
Atualmente, há cerca de 7 mil línguas faladas em todo o planeta!
A maior parte dessas línguas é falada pelos povos indígenas.
Você sabia que um número grande de idiomas está correndo risco de desaparecer?
Cerca de 2680 estão ameaçados! Se as línguas deixam de existir, desaparecem com elas os sistemas de conhecimento que fazem parte do que chamamos de diversidade cultural. A língua é um dos elementos mais importantes da cultura de um povo.
A situação das línguas indígenas é um reflexo de como viveram e vivem os seus falantes. Se os idiomas indígenas estão hoje ameaçados é porque a vida dos povos indígenas e os seus direitos não têm sido respeitados pelos Estados e sociedades não indígenas. Um dos direitos humanos mais fundamentais é o direito de falar em seu próprio idioma. Em muitas regiões do mundo, esse direito não foi garantido aos povos indígenas.
No passado e no presente, muitos governos tentaram acabar com as línguas indígenas proibindo o seu uso, como aconteceu nas Américas durante a colonização. Ainda hoje, há países não reconhecem a existência de povos indígenas em seus territórios.
Isto quer dizer que não reconhecem os direitos humanos básicos destas populações, entre eles, o direito de ser diferente e viver segundo suas próprias tradições culturais. Infelizmente, ainda é muito comum que pessoas sejam discriminadas por falarem línguas indígenas. Por causa disso, muitos pais estimulam seus filhos a falarem somente as línguas oficiais do país para poupá-los de sofrimento e violência e, pouco a pouco, deixam de se expressar no idioma indígena, desvalorizando-o.
2019: Ano Internacional das Línguas Indígenas
A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) declarou 2019 Ano Internacional das Línguas Indígenas.
A ideia é alertar os governantes e as sociedades em todo o mundo sobre a necessidade de valorizar os idiomas falados pelos povos indígenas e para isso é preciso que os países conheçam essa diversidade linguística e promovam os direitos linguísticos aos povos.
Diversidade linguística no Brasil
No Brasil, existem cerca de 180 línguas indígenas. Essa riqueza cultural e linguística é desconhecida pela maior parte dos brasileiros que vê o Brasil como um país monolíngue, isto é, que fala somente uma língua. Mas o Brasil é um dos dez países mais multilíngues do mundo!
Como fortalecer as línguas indígenas?
Uma iniciativa importante para valorizar a riqueza linguística no país está sendo realizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O Instituto criou o Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL) que tem como objetivo identificar, documentar, reconhecer e valorizar as línguas faladas pelos diferentes povos que vivem no Brasil.
Diversidade Linguística na Terra Indígena Yanomami
Na maior Terra Indígena no Brasil, a Terra Indígena Yanomami, localizada nos estados do Amazonas e Roraima, vive um dos grupos mais importantes para o patrimônio linguístico nacional: os Yanomami.
Lá são faladas seis línguas: yanomamɨ, sanöma, ninam, yanomam, ỹaroamë, yãnoma.
O Iphan apoiou um projeto do ISA em parceria com a Hutukara Associação Yanomami que teve como objetivo fortalecer as línguas da família linguística faladas pelos Yanomami. Este projeto estudou a vitalidade desses idiomas e para descobrir isso buscou responder perguntas como:
- As línguas estão sendo transmitidas entre as gerações?
- Qual o número de falantes?
- Em que momento são usadas?
- São ensinadas na escola?
- São usadas nos postos de saúde que existem nas aldeias?
- Existem materiais escolares feitos nas línguas indígenas?
Este estudo sobre as línguas da família linguística yanomami revelou que quase todas as crianças yanomami (99%) começam a aprender as suas línguas antes do português.
Outra boa notícia é que nas escolas da Terra Indígena Yanomami os professores são todos falantes de línguas yanomami e fazem uso de sua língua de origem nas atividades escolares.
A língua yanomami mais falada no Brasil é o yanomam e tem cerca 11.700 falantes, número alto se comparado com outras línguas indígenas faladas hoje no país.
O estudo também mostrou que as línguas yanomami mais ameaçadas são aquelas faladas por indígenas que vivem muito próximos de vilas, projetos de assentamentos e acampamentos de garimpeiros. A convivência mais intensa com os não indígenas está ameaçando a vitalidade de idiomas como o ninam, ỹaroamë e yãnoma. Há muitas maneiras de fortalecer as línguas yanomami, uma delas é produzir materiais didáticos nessas línguas e garantir que sejam ensinadas nas escolas.
William de Oliveira Menez
Professor de História – Fases 5 e 6. Graduado em História pela UFMG, trabalha como professor de história no ensino fundamental e médio há 19 anos. Em todas as escolas onde lecionou sempre acreditou na importância transformadora da reflexão sobre o passado humano, já que a sociedade atual é fruto dele e o futuro é construído muito a partir da compreensão sobre o que já foi feito. Ingressou na Casa Viva neste ano de 2020 e relata que essa tem sido uma experiência inovadora que o motiva muito em dar continuidade ao seu trabalho, trocando experiências e saberes tanto com colegas professores quanto com estudantes.