Geografias da África
A primeira lição que temos de ter para começar a estudar as histórias da África é entender melhor a geografia desse continente, pois inúmeras vezes a África é compreendida como uma unidade desprovida de diferenças, o que acaba criando uma ideia errônea sobre o continente e as mudanças que ele sofreu ao longo dos séculos.
Pois bem, a África é um continente repleto de diversidades geoespaciais. De acordo com dados da ONU (2016), em seus 30 milhões de km² (extensão territorial quase três vezes maior do que a da Europa) era possível encontrar, em 2015, um total de mais de um bilhão de pessoas vivendo nos 55 países independentes que nesse momento compunham o continente.
Na África contemporânea são faladas mais de 2000 línguas, existem diversas religiões e as diferenças físicas entre os africanos podem ser tão grandes como as encontradas entre um português e um dinamarquês (ambos europeus), ou entre um canadense e um boliviano (ambos americanos).
Mohamed Salah – futebolista egípcio
Chimamanda Adichie – escritora nigeriana
Mia Couto – escritor moçambicano
Samuel Eto’o – ex-jogador de Camarões
Entre essas 2000 línguas faladas na África está o português, que é usado em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Assim como ocorreu como o Brasil, esses cinco países foram colônias de Portugal, e durante esse período aprenderam o português.
Além da língua e da aparência física, os povos africanos possuem formas distintas de se vestir, de se alimentar e de morar. Nos países africanos é possível encontrar grandes cidades como Cairo, capital do Egito, Lagos, capital da Nigéria, e Johanesburgo, capital da África do Sul, cujas populações ultrapassavam, entre 2006 e 2011, os números de oito milhões, 1,5 milhão e quatro milhões de habitantes, respectivamente. Nesses mesmos países, também existem cidades menores e até mesmo vilarejos e aldeias.
A geografia africana é igualmente diversificada. Banhada pelo Mar Mediterrâneo ao norte, pelo Mar Vermelho a nordeste, pelo Oceano Índico a leste e pelo Oceano Atlântico a oeste, a África possui seis grandes tipos de diferentes de clima e vegetação.
No extremo norte e no extremo sul do continente é possível encontrar o clima mediterrâneo, que também existe no sul de países europeus como a Itália, a Espanha e a França. Nas regiões próximas ao Trópico de Câncer (ao norte) e ao Trópico de Capricórnio (ao sul) existem dois grandes desertos: o Saara e o Calahari; e no meio desses desertos é possível encontrar alguns oásis. Próximo à região desértica, encontram-se as estepes. Por fim, a região centro-africana possui dois climas preponderantes: as florestas equatoriais (que são semelhantes às que se encontram no norte do Brasil) e a região das grandes savanas.
A África possui rios extensos e caudalosos, como o rio Nilo, e imensos lagos, como o lago Vitória. A sua costa e as diversas ilhas africanas proporcionam diferentes paisagens litorâneas. A diversidade de relevo do continente inclui planícies, planaltos e depressões, e apresenta montanhas tão altas que o cume delas tem neve durante o ano inteiro.
As várias paisagens encontradas no continente africano, assim como as diferentes culturas que existem atualmente, permitem a formulação da seguinte pergunta: será possível falar em uma história da África?
Quem respondeu que não, está aberto para novos conhecimentos. A África, como os demais continentes, possui muitas histórias. Na realidade, é possível dizer que existiram e ainda existem muitas Áfricas. Essa multiplicidade se expressa, como já foi visto, nas diferentes línguas, nos diferentes tipos humanos encontrados e nas diversas culturas desenvolvidas no continente. Se isso não bastasse, a África está repleta de documentos históricos que fundamentam a ideia. As pirâmides do Egito e os templos religiosos de antigas cidades como Djenê e Tombuctu (no Mali) são exemplos concretos de que os povos africanos não viveram na mesma região, não acreditaram nos mesmos deuses e também não utilizaram a mesma técnica de construção no decorrer dos anos.
William de Oliveira Menez
Professor de História – Fases 5 e 6. Graduado em História pela UFMG, trabalha como professor de história no ensino fundamental e médio há 19 anos. Em todas as escolas onde lecionou sempre acreditou na importância transformadora da reflexão sobre o passado humano, já que a sociedade atual é fruto dele e o futuro é construído muito a partir da compreensão sobre o que já foi feito. Ingressou na Casa Viva neste ano de 2020 e relata que essa tem sido uma experiência inovadora que o motiva muito em dar continuidade ao seu trabalho, trocando experiências e saberes tanto com colegas professores quanto com estudantes.