Escambo afetivo - Fase 4
Em 2020 muitas de nossas atividades foram suspensas ou adaptadas. Entre elas a nossa Troca Viva, um evento que já faz parte do nosso calendário e da nossa perspectiva de relação com mundo e com o outro. Este evento é cheio de inspirações, já que incentiva e proporciona práticas como doação, troca, consumo direto de pequenos produtores, entre outros.
Frente tamanha potência, a Fase 4, inspirada em alguns trabalhos que desenvolveu a partir da Carta da Terra, e em parceria com a disciplina de Educação para Terra, propôs um “Escambo Afetivo”.
A ideia foi de reunir resíduos que exigem descarte especial, como pilhas, eletrônicos e óleo usado para uma troca que foi alimentada por doações de saberes e produções que temos ou conhecemos alguém que tivesse e desejasse doar, compartilhar. Nossos companheiros neste projeto doaram origami, bordado, desenhos, ovos, bolo, crochê, livros, verduras e tantos outros.
Tivemos também outros parceiros que se uniram a nós para agregar significado e conhecimento, sobre os resíduos que receberíamos. Assim, além de conhecer um pouco mais sobre a história da Casa do Saber, a partir de uma entrevista realizada pela Ângela e pela Ane; tivemos ainda a chance de compreender os conhecimentos da química. O Pedro, professor de química da nossa escola, esclareceu a garotada sobre os diversos metais pesados que compõem os equipamentos eletrônicos e as pilhas, por exemplo. Assim aprendemos sobre as tantas consequências negativas que o descarte indiscriminado destes resíduos provocam à natureza. Conhecemos ainda, como é feito o sabão com óleo usado e cinzas. Além disso, orientamos algumas atividades para sistematizar e aprofundar nossos conhecimentos a este respeito. A criançada produziu folder, pesquisou pontos de coleta destes resíduos no bairro e região, além de um tópico da nossa biblioteca virtual, que foi composto por este assunto.
Por fim, as crianças ficaram responsáveis por coletar os resíduos citados e após construir e experienciar tantos conhecimentos, chegou o dia do nosso Escambo Afetivo. Essa troca aconteceu no nosso Drive thru do mês de dezembro. Neste dia as crianças trocaram os resíduos coletados por algum presente!
Olá, pessoal? Como estão? Vim aqui pra contar pra vocês sobre minhas experiências com as trocas e as doações de produtos e/ou habilidades. Desde 1998, quando comecei a trabalhar voluntariamente em uma Instituição do Estado de Minas Gerais que tinha o nome de FEBEM (FUNDAÇÃO ESTADUAL PARA O BEM ESTAR DO MENOR), iniciou minha experiência com as relações de doação e de troca. Eu trabalhava 2 vezes por semana com crianças que vivenciaram problemas familiares significativos e tiveram que ir morar nesta instituição até poderem retornar para suas famílias, serem adotadas ou completarem 18 anos. Talvez vocês conheçam esta instituição pelo nome de “orfanato”. Foi uma experiência muito rica e marcante, pois conhecer e entender as realidades dessas crianças, me fez aprender sobre as grandes diferenças sociais do nosso país.
Durante o tempo em que eu trabalhei como psicanalista em instituições e consultório, eu atendia voluntariamente ou recebia como pagamento, alguns produtos que os pacientes faziam. Então, trocávamos atendimentos por quadros, fotografias, esculturas, etc.
Por volta de 2010, eu comecei a participar mais ativamente de alguns movimentos de lutas sociais e, em um deles, nomeado de forma orgânica por “Fica Ficus”, fizemos alguns encontros na Avenida Bernardo Monteiro para discutir as ações de prevenção e cuidado para com os Fícus que estavam infestados por moscas brancas. Este movimento reuniu espontaneamente pessoas da sociedade civil, interessadas em entender e proteger os Fícus (espécie de árvore de grande porte que se encontra por toda a avenida, algumas já centenárias e que arborizam intensamente vários quarteirões). Várias ações foram definidas e alcançadas com o poder público (no caso, a Prefeitura) por causa dessa pressão e mobilização popular.
Através desse movimento, conheci pessoas relacionadas ao trabalho da Permacultura e Agrofloresta. Escolhi conhecer mais técnica e vivencialmente estes trabalhos e comecei a participar de várias experiências. Estas práticas acontecem por todo o país e pelo mundo. Podem ser trocas de trabalho voluntário por hospedagem e alimentação ou outras tipos de troca. Alguns dos lugares em que realizei estas vivências, trocas e mutirões foram: Quilombo de Camburi em Ubatuba/SP, coletivo e assentamento em São Carlos/SP, Instituto Arapoty em Itapecerica da Serra/SP, Instituto Pindorama em Nova Friburgo/RJ, Ecovida São Miguel em São Gonçalo do Rio das Pedras/MG, Instituto Flor de Ibez em Barra do Garças/MT, Instituto de Tecnologias Intuitivas e Bio-Arquitetura TIBÁ/RJ, Revolução dos Baldinhos e instituto indígena em Florianópolis/SC, Sítio Sementes em Brasília/DF, Ilha de Santiago, Ilha do Fogo e Ilha Brava em Cabo Verde (país do continente africano formado por 10 ilhas). Na ilha de Santiago, fiquei na casa do pai da Gisseila, a doutoranda caboverdiana que esteve 2 vezes na Casa Viva, nos contando sobre os costumes do seu povo e fazendo conosco a Katxupa, prato tradicional de lá. Em Cabo Verde, fiz várias trocas, participando de trabalhos com o grupo de mulheres sobre ecofeminismo e agroecologia.
Atualmente, continuo realizando as trocas nos mutirões de agroecologia, na ocupação urbana Espaço Comum Luiz Estrela e na escola Casa Viva, na qual trabalho em troca dos estudos do meu filho e da minha filha.
Todas as experiências são de extremo aprendizado e troca de conhecimento. Além da imensa alegria de conhecer pessoas e lugares que inspiram e alimentam o desejo de continuar me relacionando com o mundo através do escambo.
Até breve, Fase 4. Nos encontramos no próximo escambo,
Beijos,
Angela