“O exercício da palavra é o desejo da partilha desmedida, e dá-se com solicitação de resposta, mas sem valor de troca. Isso significa que os seus efeitos são incalculáveis.”
Editorial – Revista Gratuita – Cartas para todos e para ninguém
“ Alguns lamentam o desaparecimento da arte epistolar mas é tolice; as cartas continuarão a escrever-se enquanto houver gentes e enquanto houver distância, enquanto houver duas pessoas separadas por um pedaço de distância maior do que o alcance da voz e do que o alcance das mãos se continuará a escrever, sobre o papel ou a tela se continuará a escrever, e o que está a desaparecer não é a arte de escrever cartas mas o ato de dobrar o papel e metê-lo num envelope e destiná-lo à viagem, o que está a se perder é uma arte da dobradura, e a ciência material do papel, e os pequenos gestos associados: alisar a página, testar-lhe a espessura, experimentar a tinta, desenhar as letras de tal modo que possam ser lidas por outra pessoa, isso está a desaparecer (a caligrafia não está a desaparecer; está talvez a se tornar veículo exclusivo da escrita íntima, para si). O que está a se perder é essa coreografia, esse pequeno repertório de gestos que acompanha a escrita das cartas, e também o repertório de gestos associado à leitura: esperar, recolher a carta com as mãos, decidir o momento de abri-la, deixá-la pousada talvez por muito tempo sobre a mesa ou o aparador, ou mesmo espetá-la como um inseto morto no quadro de avisos, e também o gesto eventual de cheirá-la, o ato posterior de guardá-la, a possibilidade de relê-la ou de encontrá-la por acaso numa gaveta ou dentro de um livro que se pretende reler, e ainda a possibilidade de sua destruição, pela água, pelo incêndio ou pela errância natural dos objetos.”
Ana Martins Marques – Carta de Lisboa
Livia Arnaut
Professora de Artes Visuais – Fases 1 a 6. Graduada em Belas Artes pela UFMG, professora e sócia fundadora da Casa Viva é também ilustradora e Editora de Arte da Revista de atualidades para crianças, Manga de Vento. Sempre quis ser professora e acredita que a imaginação, a criatividade e a atenção às subjetividades têm um papel fundamental na formação das crianças e adolescentes.